terça-feira, 25 de março de 2008
Vivíamos a nossa juventude de cano apontado á têmpora, esperando o momento em que nós, entorpecidos pela irresponsabilidade que nos era reconhecida, premisse-mos o gatilho que iria impiedosamente por termo á nossa infância.
Um gesto egoísta, que me visita em pensamento, quando na mesma rua onde a minha infância escorreu sombria para a sarjeta, voam crianças montadas em pássaros purpuras que as levam para longe do chão de vidro, que piso descalço.
E tanta vez o gatilho me tremeu entre os dedos... E tanta vez chorei eu, em cima do revolver que me iria tornar um homem. Um homem que deixaria de ter sonhos... Um homem que morreu no dia em que nasceu.
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segunda-feira, 17 de março de 2008
Se me encontrares, não me mintas e diz-me que estou com mau aspecto, diz-me que não vale a pena continuar sem dormir, pois que não passas de uma miragem, e tudo o que existiu entre nós escorreu pelo ralo, naquela mesma noite, quando foste tomar banho.
Não digas que sentes saudades, não fales de amizade, não faças qualquer referencia aquilo que um dia fui. Não me fales de ti, não quero saber o que fizeste ontem, nem no ano passado, nem nunca.
Mostra-me as tuas mãos, e como estão limpas do meu sangue, explica-me que não existe amor que o sabão não lave.
Convida-me para ir ver o mar. Não fales durante a viagem, chegado á praia, senta-te a meu lado, deixa-me adormecer e desaparece nas ondas.
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sábado, 15 de março de 2008
Nasce o dia vestido em tons negros de morte ao som de violinos que choram por todos aqueles que não conhecem a dor de não sentir.
Ao abrir a janela, avisto ao longe aves azuis, que levam nas patas corações de outros que como eu, agora, vivem de peito vazio, voam para norte, para a montanha da realidade, onde todos os sonhadores vão morrer.
Mordo o lábio... poderia ser que a dor tivesse voltado
Ainda não decidi se deva ir dormir... Á partida este dia cinzento e frio até poderia ser o dia mais feliz da minha vida, mas dizem os astros que é melhor fumar um cigarro e ir-me deitar.
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quarta-feira, 12 de março de 2008
Os dias passam por mim em câmara lenta, o amargo deslizar entre cenários ocos de sentimento, onde todas as personagens em cena são figurantes e a narrativa se desenrola em torno da monotonia diária de um niilista.
Lembrar, que um dia, viver fora diferente... Bastava-me os sonhos que pintei em tons purpura no muro da rua onde morava, mas também esses ruíram sobre os escombros do romântico que por momentos fui.
Tranco a porta, e espero a noite passar por entre as folhas vazias do meu caderno preto, adormeço com o bailar do amanhecer nas paredes enquanto a solidão escapa sorrateira por uma fresta da janela.
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